Rio de Janeiro

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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Posse

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Posse é desamor,

Chama e dissabor

Da alma a cobiçar

Algo como caça.

 

É veia de rancor,

Sangue sem calor,

Claustro de negar

À alma a sua graça.

 

Finge o dom e a dor;

Esse sofredor

Vive a solfejar

Notas, sem cantar.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

O Relógio de Liliana

O relógio de Lilianaclip_image002

Edson encontrou-se com Liliana, sua colega de trabalho, no supermercado. Aproveitou a oportunidade para discutir a política de vendas da loja de departamentos:

_Você acha que a promoção de final de semana terá uma boa venda? Eu estou em dúvida se trabalho até as dez da noite sábado. É uma chance de aumentar a comissão, mas eu não sei se... De repente, vou jantar fora.

Ela disse que estava concentrada na vontade de conquistar a comissão das vendas promocionais e que iria participar das vendas à noite.

Edson mudou de assunto e eles se dirigiram a caixas diferentes e se despediram.

Liliana pegou o seu carrinho de compras e o leva até o carro. Encontra-se com a vizinha Dora e a cumprimenta.

Dora pergunta o que ela pensa dos cuidados com o prédio onde elas moram.

_Eu não sei, os moradores são responsáveis, eles não deixarão nada de errado acontecer no edifício. Eu chego a minha casa, faço o jantar, sirvo a comida para as crianças e vamos todos dormir.

A vizinha lamenta que a outra não saiba de nada.

Liliana chega, descarrega as compras e as guarda, preparando-se para fazer a janta. Toca o telefone:

_Liliana, vamos sair no sábado à tarde?

Ela diz que não será possível:

_Pela manhã vou ajeitar o cabelo e as unhas e à tarde sairei com as crianças para passearmos e conversarmos. Sinto-me tão culpada de não atendê-los durante a semana. Esse tempo é meu e deles, sinto muito.

Levanta cedo, arruma as crianças e se arruma. Deixa as crianças na escola e quem pega é a avó. Verá os filhos à noite novamente. Chega ao estacionamento da loja e o garagista a interrompe:

_Dona Liliana, a senhora estaciona aqui há algum tempo e eu nunca a ouvi reclamar ou se queixar, Como é que a senhora consegue?

_Profissionalismo e falta de tempo.

O valete a interrompeu novamente:

_Com todo o respeito que a senhora merece, preciso dizer que a senhora estão se transformando em uma pessoa mais alienada que o meu filho adolescente conversando pelo computador. Pense nisso, Dona Liliana. Pense nisso, frisou.

Liliana até concorda com o garagista, mas a vida está assim e a comissão pagará as aulas de esporte das crianças.

_Que bom que o senhor falou comigo. Hoje à noite ficarei até as dez. Até depois.

Concordou e entrou para assinar o ponto e conquistar a comissão.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Momento Gibi

clip_image001Momento Gibi

Teimando com toda a tecnologia do lazer virtual o gibi insiste e tem público e vendas garantidas.

Enquanto a literatura tradicional acrescenta cultura e conhecimento, a função do gibi é descontrair crianças e adultos.

Enquanto para as crianças, o gibi, além de lazer, é estímulo para a leitura de textos de maior complexidade; para os adultos a sua leitura funciona com a função invertida, ou seja, uma provocação ao ócio em meio às atividades, ou ao excesso de atividades.

Assim, as tirinhas e as charges nos jornais ajudam a digerir algumas notícias, algum fato ou a nem lembrar o que foi lido na página anterior.

Quem não leu gibi? A leitura com gosto de doce.

Porque a descontração é fundamental ao bem estar e porque levar tudo a sério é desperdiçar os bons momentos em favor dos momentos graves. Os momentos sérios existem e são levados de maneira séria, mas os momentos de descanso também devem ser levados á sério.

O gibi, as tiras e as charges de jornal são, em última instância, provocações saudáveis à literatura, à imaginação e à criatividade. São momentos em que as provocações estimulam o aprimoramento das artes e uma boa provocação é capaz de criar o progresso e a produção de textos de qualidade.

O conceito de que se adquire conhecimento somente através do sofrimento implica num paradigma de estoicismo nem sempre positivo, pois também é possível o aprimoramento intelectual através de um sorriso e de uma literatura descompromissada de ser literatura.

domingo, 28 de agosto de 2011

Seria um thriller, se não fosse caipira, etc. e tal.

A Cidade Fantasmaclip_image002

Eu não sou afeita a lugares misteriosos e, embora essa cidade se localize próxima da capital do estado, eu não a visitei e não tive vontade de estudar a sua historia, tenho medo do “Coiso”. Eu adoto a praticidade como estilo pessoal e não combino com alegorias fantasmagóricas. No meu ponto de vista, os mistérios muitas vezes não passam de crendices populares, oriundos da falta de cultura aliada a alguns truques usados por “barões de mato” para manter a população sob o seu controle.

Por estes dias, a falta de sorte com uns amendoins torradinhos me fez quebrar um dente e eu fui a um consultório de dentistas plantonistas para emergências odontológicas. Enquanto aguardava na fila de espera, sentei-me no sofá e ao meu lado estava uma senhora com o rosto inchado. Conversamos e ela me disse que era “cidade fantasma”. Pensei na minha praticidade, na minha dor de dente e na ausência de boa vontade com os moradores de lá. Ela se chamava Anita e viera morar na capital depois que a filha casou. Ela tinha vontade de morar em uma cidade grande e realizava o seu desejo. Com o rosto inchado, ela estava feliz de contar com um dentista de uma cidade grande.

Eu disse a ela que não conhecia a cidade de onde ela viera e, para negar ou confirmar expectativas, pedi a ela que me contasse sobre a cidade onde ela passou os sessenta e dois anos da sua vida.

_São muitos os mistérios na minha cidade, eis um fato. O cemitério é o símbolo da praça principal e o povo acende velas para os seus mortos na praça. Os enterros são uma festa com bolos e cafés durante o velório. É uma praça igual a todas as outras, com bancos para as pessoas se sentarem e carrinhos de pipoca. A diferença é que ao invés de uma fonte de água e um jardim, nós temos um túmulo no meio da praça.

Eu disse que a idéia era de mau gosto do prefeito responsável pela obra e perguntei o motivo pelo qual a população não reclamava para modificar o visual da praça.

_A população, ou seja, nós tememos pelos nossos filhos. A senhora preste atenção no que eu vou lhe contar: eu ouvia falar na pedra azul que rolava do alto da igreja e aumentava de tamanho até que passava por cima de quem duvidasse dos poderes ocultos presentes na cidade. Eu não acreditei e pedi a companhia do meu marido para ficar próxima a igreja durante a noite de sábado. Lá, por volta das nove horas da noite, nós vimos uma pedra azul clara e brilhante saindo pela porta da igreja que vinha em nossa direção. Corremos até chegar a nossa casa e juramos nunca mais desafiar o que os mortos da praça desejavam.

À medida que a dona Anita contava a história fantástica, mais eu tinha vontade de saber. Perguntei se esse era o grande mistério da cidade ou se haviam mais fatos estranhos a serem contados. Aticei a vontade dela e ela me contou sobre a caverna santa.

_Contam que alguns jovens, garotos e garotas, foram fazer um piquenique no campo e entraram na caverna. Quando o último jovem entrou na caverna, ela se fechou sozinha. As famílias dos jovens ao perceberem a demora do retorno deles às suas casas avisaram o Corpo de Bombeiros. Os bombeiros demoraram uma semana para abrir a caverna com britadeiras, mas salvaram os jovens. Apenas uma das moças ficou seriamente perturbada e foi direto para o sanatório e de lá não mais saiu. Eu não deixei a minha filha sequer passar perto da caverna.

Eu ouvia os relatos daquela senhora com espanto. Mudei de assunto e falei das vantagens de se morar em uma cidade pequena.

Ela me disse que a vantagem era para as mulheres casadas e que as moças solteiras sofriam muito.

Eu pedi que ela explicasse mais esse seu conceito.

_Uma moça solteira que morava com a irmã e o cunhado arranjou um namorado. Depois de um ano de namoro, ele fugiu com a filha do dono do hotel. Falaram que a moça estava perdida. Eu, na época, pensei que ela, a moça rejeitada, estava perdida em sofrimentos, mas a versão era outra. Não sei onde surgiu o boato, mas disseram que o namorado fugiu com a outra porque descobriu que a namorada era uma moça perdida. O falatório foi tanto, que o meu marido, assim como todos os homens ditos de “bem” naquela cidade, proibiu-me de pisar a calçada em frente à casa da moça. Assim, as mulheres atravessavam a rua para mostrarem umas as outras que não andavam em caminhos errados. Fizemos procissão em frente à casa da moça e atravessamos para o outro lado da rua para que ela nos visse e se arrependesse do que nem sabíamos se era verdade. Não pisamos na calçada onde ela pisava. Pobrezinha, fiquei com pena, mas eu era uma boa esposa e as boas esposas tinham que provar à cidade e ao prefeito que eram boas esposas.

Finalmente chegou a minha vez de ser atendida e a enfermeira estava à porta chamando o próximo e o próximo. Eu e a dona Anita fomos atendidas em consultórios diferentes. Enquanto o meu dente era refeito, eu pensava sobre aquela cidade que eu não quis visitar e, mesmo não a conhecendo e não vendo graça nas festas fúnebres, sabia que nela habitavam os desmandos do assombro, um mistério difícil de controlar.

sábado, 27 de agosto de 2011

Júlia e a Artista

Júlia e a Artistaclip_image002

A atriz iniciante recebe o convite para representar em uma peça de teatro, lê a sinopse, pensa se aceita e se o papel lhe convém. Fecha o contrato e as participações das vendas dos ingressos na bilheteria. Estuda, decora, ensaia, dorme de dia, não vê a família no fim de semana, chora de saudade. E na segunda-feira liga para eles.

A vida é sofrida, mas foi ela que escolheu a carreira.

Ensaio geral e abertura. Bate a ansiedade, espia pelas cortinas o público que irá assisti-la, é hora de entrar no palco. Põe a alma no personagem que diz aquilo que não é dela, que faz e desfaz e arrebata essa platéia. Esgota-se interpretando e dando o seu melhor suor.

Acaba a encenação, o público aplaude. Comemora com a trupe, a sua companhia.

Amanhece quando chega a sua casa. Deita-se e dorme como um sapo morto nas cobertas desarrumadas e intactas nessa desarrumação. Acorda à tarde, tem mais um espetáculo à noite. Passa um, dois, três meses vivendo a vida de outra.

Acaba a temporada. Acaba a encenação dessa peça. Descansa na casa vazia, no palco de luzes apagadas, come arroz e ovo frito. De repente, falta tudo. A casa precisa de uma vida sem personagens, da vida real. Arruma a casa, a família, os amigos e a rotina.

Vem outro convite, tudo se repete. Indefinidamente tudo se repete peça após peça, na vida da atriz. Ela não tem mais nome, ela vive dos nomes das personagens. Ela envelhece com o nome das outras e as suas plásticas. O sucesso foi a sua escolha, o sonho de muitos, a realidade de poucos.

“Foi uma vida difícil, mas ela era tão generosa. Ninguém soube o que ela passou, dos meses de desespero para pagar o aluguel, os meses que comíamos da horta. Ela não era bonita, glamorosa, ela tinha talento. Quantas vezes ela odiava as personagens que fazia e nos ensinava a não repetir nem em brincadeira o papel da megera.”

_É tão bom te encontrar, posso conversar sem provocações, disse a moça. Ela tinha um bom raciocínio e assim se aguentou na razão. Quantas jovens não suportam o que ela passou e, não suportando a dificuldade, se refugiam na escuridão das suas vidas. Gosto de quem pensa, porque sabe que todos nós enfrentamos dificuldades.

Quem falou foi Júlia, quem ouviu foi Fabrício e a artista procura a próxima atração.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Compartilhando Livros / Difundindo Cultura

Recebo de um colega argentino o livro virtual “Alcaparras, Refranes & Desaforismos, escrito por três autores com a seguinte apresentação:

El volumen contiene tres obras:

“Poemas del tamaño de una alcaparra” de Eduardo Espósito

“Del franelero popular” de Rolando Revagliatti

“Aforismos, desaforismos” de José Emilio Tallarico

Para o download: http://issuu.com/recitador/docs/alcaparras__refranes___desaforismos_pdf

Entremeios

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Tudo foi dito;

Sua palavra

Diz do seu signo,

Fala que abraça.

 

Ouve-se o espírito

Antes da lavra;

É paz do aflito

E água que acalma.

 

Nesse convívio

Prata da casa,

Folha de livro

Vira cachaça.

 

Conto descrito,

Come-se a traça;

Passa de um livro

E abre outra página.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Condição

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A minha lucidez me ensina.

Quem dera me soltar, dizer

Bobagens, e à toa sorrir...

Na tônica restar, viver.

 

E teimo na constância aflita

Do vento, desarmonia do etéreo,

Que sente. Permaneço rítmica,

Na tecla da canção a sorver.

 

O sonho, imprecisão da linha,

Vem sóbrio à melodia se ater,

E ao espaço da amorosa sina,

Cingir sem precisar reger.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Pensando em Economês

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Enquanto Marx, alemão, continua admirado pela esquerda, ou seja, os socialistas é preciso que se saiba que quem subverteu o capitalismo foi John Stuart Mill e não Marx.

John Maynard Keynes, inglês, elaborou uma teoria econômica chamada keynesianismo, cujo objetivo era manter o crescimento da demanda em paridade com o aumento da capacidade produtiva da economia, de forma suficiente para garantir o pleno emprego, mas sem excessos, para não contribuir com a inflação. Essa teoria foi adotada até o final dos anos 70.

A partir dos anos 80, John Stuart Mill, outro inglês, foi redescoberto pela economia, desprezando-se a noção de que mesmo na época Vitoriana, ele foi considerado um radical liberal pelo pensamento que: “uma ação é avaliada unicamente em função das suas conseqüências”. Também defendeu o individualismo como forma do bem estar coletivo.

Expostos os dados dos pensadores, faço o meu pensamento do que se observa nos dias atuais:

A substituição do ponto de vista de Keynes pela visão de Stuart Mill, e ainda assim, observando sob um ponto de vista simplificado, foi um retrocesso para o desenvolvimento do ser humano. Marx criou a sua teoria do trabalho e do estado e, nesse ponto, a teoria para toda a sociedade deixa a desejar em alguns aspectos porque nem toda a pessoa tem na sua utilidade ou tem como finalidade a sua função social.

Ocorre que, nem Marx, defensor do proletariado, e nem Keynes, defensor da burguesia, ou classe média, como prefiram ler, previram até onde o individualismo, e o liberalismo radical, poderiam chegar.

As crises financeiras, as multinacionais das drogas ilegais e o despreparo dos estados para combaterem uma e outra respectivamente, estão aqui e no mundo afora.

Resta enfrentar o individualismo e para fazer frente aos malefícios que enfrentamos propomos que algumas atitudes sejam previstas. Uma delas é, além da criação de empregos, a verificação do grau de satisfação dos seus empregados medido pela taxa de rotatividade em um determinado período de tempo dentro da referida empresa. Obviamente, ninguém propõe a um empresário a diminuição do seu lucro, mas mesmo sem diminuir os lucros, que exista um investimento em planos de IDH (índice de desenvolvimento humano) dentro das suas empresas.

Empresa e estado não se confundem e não devem possuir o mesmo objetivo, estado não existe para lucrar. Mas alguém parou para pensar nos prejuízos que o estado tem ao ser provocado pela violência e quanto dinheiro bom tira daqueles que precisam o submundo do crime?

O capitalismo precisa avançar na questão econômica e social, novamente é tempo de deixar de lado alguns excessos do individualismo como fonte de riquezas. Quanto a Marx, digo que a questão social passa pelo combate a criminalidade para que o estado possa cumprir as funções que a ele cabe e o cidadão possa levar a sua vida de acordo com a civilidade.

Os três pensadores eram contemporâneos em sua época, assim explico as alusões a cada um deles.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

A Sobrinha

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Uma senhora finíssima se apaixonou por um sambista da União da Ilha do Governador. O sambista sentiu-se envaidecido e dava bola para ela. Ela poderia trazer doações para a escola de samba com os contatos influentes do meio onde freqüentava.

Um sobrinho homem a levava aos ensaios e se divertia enquanto a tia flertava com o sambista.

Aconteceu que esta senhora, chamada Maria Luíza do Carmo, foi convidada para participar do desfile. Ela disse que iria se o seu sobrinho a acompanhasse. O João Victor, seu sobrinho, pensou em desfilar com a tia, mas se encantou por uma passista que estava noiva e por pouco não se meteu em briga com o noivo da cabrocha.

_Eu venho aqui para acompanhar a minha tia, que não é mais moça e quer sambar. A sua noiva é bonita, mas eu sou um homem de bem.

O noivo disse:

_É bom que seja verdade. Eu sou malandro e não se meta com a minha mulher.

Desde então a Maria Luíza não foi mais aos ensaios da escola de samba e conversava com o sambista em outros lugares, o que a deixava triste e o que fez o sambista se ajeitar com a cabrocha do morro. Eles eram conscientes de que amor proibido na meia idade não fazia sentido.

A família era grande e enquanto estava essa confusão familiar na escola de samba, a Celina, uma sobrinha, filha de outro irmão que não o pai do João Victor, levava a vida de jovem com os seus amigos e distante dos outros familiares.

Quinze dias antes do carnaval, Celina foi arrumar-se no salão pensando que o mesmo estaria fechado no feriado. Chegando ao salão onde era freguesa habitual, a cabeleireira avisa que a Brigite, um cabeleireiro travesti que vive de bom humor, quer falar com ela.

A Celina na hora chama a Brigite:

_Ô Brigite, quer falar comigo? Então diga lá.

_Você é sobrinha da Maria Luíza?

_Sou. Ela é minha tia.

_Quer desfilar de destaque na escola de samba?

Celina começou a rir pensando que diziam que ela, Celina, é que aprontava. Celina, no entanto, não era de escola de samba e não tinha ensaiado.

Brigite disse que destaque não precisava de ensaio e que a escola forneceria a fantasia. Era subir no carro alegórico e ganhar um cachê.

Celina pensava na tia e imaginava-se como destaque da escola. A tia que se entendesse com o samba sem precisar da sua ajuda, mas a tia não ficaria sabendo do convite no que dependesse dela. Era uma questão de respeito à tia.

_Desculpe, Brigite. Eu no samba não vou. Eu vou a festas, é fato, mas sou dura no molejo e no requebrado. Não dá, vou prejudicar o desfile de vocês e abaixar a nota do desfile. Seria maldade minha desfilar.

Voltou do salão feliz com o convite e no dia do desfile foi assistir Brigite desfilar.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O Amor é Burro

clip_image002O Amor é Burroclip_image004

_Seu João, eu sei que o senhor cuida de animais, é tratador e não me leve a mal. A égua Grand Prix terá tratador particular e segurança, paguei muito caro por ela e contratei pessoal para ela. Disse o dono da fazenda.

João pensou no preço e concordou com o doutor. Era melhor não cuidar se o animal era premiado. Mas o doutor continuou:

_João, se você soubesse o que eu vi quando menino. O meu pai tinha criação também. Eis que um burro rondava a fazenda e o meu pai dizia para que eu não deixasse ele se aproximar das éguas. Eu, moleque, ia jogar bola e deixei as éguas com os cavalos no pasto.

Quando volto, o burro tinha entrado e pastava também. O burro não tem a pose de um garanhão, ele é pacato, cordato, sério e, pasme! Sensível. Ele passeava por entre as éguas no pasto quando uma delas relinchou para ele e ele ensaiou os seus zurros.

Eu, garoto, curioso, fiquei lá de sonso, não toquei o burro. O burro e a égua namoravam e eu olhando. Passados alguns meses, a égua sumiu. Quando a égua sumiu, eu corri para o meu pai e disse a ele que uma das nossas éguas havia sido roubada. O pai disse que por aquelas bandas não tinha ladrão e que eu tomasse cuidado com onça ou outro bicho feroz.

Um dia eu e o meu pai fomos à cidade comprar sal e no caminho a avistamos. Ela estava prenha e o meu pai perguntou se eu sabia com qual dos cavalos ela havia cruzado. Eu baixei os olhos, envergonhado e fiquei quieto. Quando eu baixei os olhos, ele disse que ela havia cruzado com um burro e que eu havia escondido o acontecido dele.

_Filho, a égua não é mais nossa. Se existe amor entre os bichos com total fidelidade é o amor entre o burro e a égua. Eles não se separam, abandonam os seus rebanhos e seguem o seu caminho. Agora resta a nós dois observarmos esse amor e ajudar a cuidar da cria deles, não há nada que os façam voltar a ser o que eram antes. O burro ainda se comunica com os outros burros, mas a égua fica ao lado do seu escolhido. A maioria das éguas segue o instinto e gostam do garanhão, mas a égua que escolhe o burro, não.

Depois do acontecido, demos o casal a uns conhecidos para que ajudassem na lida. Eles não poderiam retornar à fazenda porque um burro chama o outro e iríamos perder as éguas, e nós teríamos que adquirir outras éguas para o garanhão. Esse amor eu presenciei e admirei. Ambos são bons, mas com gênios diferentes.

A égua Grand Prix é reprodutora, mas deixe, eu cuido dela.

João não disse nada. Concordou com o doutor e saiu cuidar da lida.

domingo, 21 de agosto de 2011

Eu Não Acredito

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Anabela veio conversar com a neta e não conseguia parar de rir. A neta, Deise, que estudava fora da cidade de São Paulo, feliz em ver a avó, sorridente pergunta:

_Vovó, gostei da surpresa que você me fez. Visitar-me toda contente e dizer que veio para ficar comigo uns dias, que mais posso desejar?

Anabela pediu para se sentar.

_Querida, você faz um chá para mim?

A neta correu para a cozinha e acendeu a chaleira enquanto a avó respirava fundo, recostada em uma almofada.

Vem o chá em uma pequena bandeja acompanhada de biscoitos leves.

_Deise, sente-se ao meu lado, precisamos conversar.

A moça senta-se.

_Mamãe está bem? E papai?

Anabela disse para se acalmar que os dois estavam com a saúde em dia.

A neta pressentia que algo não estava bem, apesar das boas palavras da avó. Silenciou e aguardou que a outra tomasse o chá.

_Deise, preciso te dar uma notícia que eu sei que você não vai gostar. Eu preciso que você se sinta preparada para o que vou dizer.

As jovens são impacientes e ela disse que nenhum assunto poderia fragilizá-la naquele momento. A avó, antes de rir novamente, disse tudo de uma vez:

_ A sua mãe trocou de marido. O seu pai tinha amante e ela fingia que não via. Nunca me disse nada, mas uma mãe conhece os seus filhos como ninguém mais. Ela estava triste.

Nesse momento Deise afundou no sofá, mas Anabela continuou:

_O problema não foi a separação, eu já previa que daquele jeito o casamento iria para o brejo. O problema foi o modo como ela fez tudo isso em dezesseis dias, nem mais e nem menos. Quando cheguei à casa dos seus pais, há oito dias, encontrei o seu pai abraçado a uma mulher que, por sinal, é belíssima e livre. Ele pegava o restante das roupas que ainda estavam na residência. Saiu bem, saiu satisfeito em poder levar a vida que desejava a uns dois anos, pelo que eu sei. Quando fui confortar a sua mãe, ela pediu-me que eu voltasse no dia seguinte e que conversássemos pelo telefone naquele dia. Eu entendi a situação e deixei-a só naquele dia.

Deise interrompe a avó:

_Ela ficou arrasada e se meteu em encrenca?

Anabela fez com a cabeça que não.

_Acontece que para se distrair, ela foi a pizzaria, e se encantou com o pizzaiolo, um homem boníssimo da cantina do bairro do Bexiga. Trocaram telefones e se encontraram.

Deise conhece o pizzaiolo desde que era criança, mas ele era casado naquele tempo.

_Ele se separou vovó? A mamãe arranjou um amante?

Nesse instante ela não sabia se chorava ou se sorria porque o namorado da mãe era amigo da família.

_Acontece que o Genaro se separou há pouco tempo e ele resolveu dar um fim na solidão. Ele agora está morando na sua casa porque a casa dele ficou com a antiga esposa.

Deise brigou com a avó:

_E a senhora admitiu isso, vovó? Logo a senhora!

Anabela olhou profundamente nos olhos da neta:

_Deise, diversão é uma palavra pequena, eu tive uma crise de riso que seria histérica se eu não tivesse passado da meia idade. Adorei o que a sua mãe fez. Vim para perto de você para deixar que eles se entendam. O seu avô, enquanto vivo, respeitou a mim e a família dele. O seu pai se meteu com mulheres livres e contava vantagem, diziam que conseguia todas e por aí abaixo. Mas é o seu pai e respeite-o. Não saia com ele quando ele estiver com a amante, filho implica e amante é ciumenta. Eu não quero confusão entre você e o seu pai.

A moça retrucou:

_Ah! E a mamãe?

_Deixe que ela aproveite o momento, eu vim aqui para ficar com você enquanto eles se acertam.

Agora Deise estava em estado de necessidade. A avó cuidaria dela.

sábado, 20 de agosto de 2011

Análise Vetorial

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O resultado da conta feita

Vem apurar da estatística, o álibi

Da porcentagem disposta em série

E demonstrar a razão parcial.

 

A fim de obter a medida prévia

Condicionada em exemplos fáceis

Do complicado vetor da estética,

Como calcula a interface na álgebra,

 

A geometria vem, demonstra a métrica,

Desarrazoa um resultado em partes

Ao conservar as variantes, cega

Ao fracionar condições afáveis.

 

O demonstrado é o previsto na híbrida

Hipotenusa e não é descartável,

Mas o possível no quadro da égide

Proposital, e conforme o estável.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Nuvens

Nuvens

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Nuvens soltas

São tão leves,

Passam breves.

 

Nuvens juntas,

Chovem cuntas,

Sapos verdes.

 

Homens, sedes

Bebem charcos

De águas cerces.

 

Soltas, leves;

Quando juntas,

Chovem raios.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

No Tempo do Impossível

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Fazia calor naquela noite morna de outubro. Ariadne adormeceu depois do banho.

Sonha que acorda e vai se arrumar para sair. A se ver no espelho preparando-se para lavar o rosto, surpreende-se com os cabelos esbranquiçados.

_Esse tom de cabelo está me deixando com a aparência muito madura. Tenho 52 anos e aparento sessenta.

Liga o rádio enquanto toma o café da manhã. As músicas têm um ritmo diferente de todos os que ela conhece.

_Hoje será um dia difícil, pensa de novo.

Termina de se arrumar e sai. Está escuro, são cinco horas da manhã, as luzes das ruas estão acesas e não encontra nenhum conhecido no trajeto.

As ruas, aos poucos, lotam de veículos diversos. Vem à mente as reuniões que frequenta. A Glória, sua amiga, é generosa em convidá-la para o bate-papo, mas ela não tem nenhuma intimidade com o grupo que se reúne para sair às sextas-feiras. As saídas são aborrecidas e enfadonhas embora signifiquem a vida social obrigatória.

_Estou implicante hoje. Eu não era assim antes dessas reuniões na petiscaria. Se fosse possível, não iria mais. Foi o grupo no qual eu entrei sem pensar se realmente iria gostar. O que será que eu tenho hoje? Será que estou doente? Mas o médico disse que eu estou bem! Mas que eu acho doença correr uma hora antes de jantar com o intuito de ficar em forma, acho. Digam o que disserem, são reuniões aborrecidas. Não é a minha turma, é a turma da Glória.

Toca o despertador. Ariadne acorda cansada de sonhar. Levanta e ao lavar o rosto sente-se aliviada dele estar igual ao da noite anterior.

Liga o rádio e as músicas são as mesmas do dia anterior. Ao preparar o desjejum repara que o calendário do celular não mudou a data e marca o dia de ontem. Ariadne segue a rotina pensando que não havia visto o calendário do celular no dia de ontem.

Ela chega a sua casa e quer tomar um banho. Toca o telefone: sua amiga Glória a convida para participar de um grupo que se reúne às sextas-feiras. Ela agradece e diz que prefere outro tipo de diversão.

Passam-se quatro anos. A rotina da manhã prossegue. Na estação de rádio promovem o cd de um novo talento que está fazendo um pré-lançamento do cd que será lançado no ano que vem. Aquelas músicas que ela ouvira em sonho, hoje estão nas rádios.

Ariadne está certa que o futuro foi modificado e essa certeza traz ao presente a vontade de acreditar que o impossível não existe.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Privacidade

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Um assunto puxa o outro e, decidi escrever sobre o que eu considero o mal do século XXI: a falta de privacidade.

Digo que é um mal baseado no comentário que eu fiz, contando da semana de autoconhecimento que eu participei no século passado.

Estávamos numa turma de uns 120 alunos, digamos alunos, porque ninguém era paciente, éramos todos estudantes. Fazíamos os testes individualmente e em grupo para conhecermos as nossas áreas cegas, ou, os defeitos que os outros viam, mas somente os outros viam, mas os donos dos defeitos, nós mesmos, não tínhamos a mínima noção deles.

Os mestres eram especialistas em psicologia. Vejam os conselhos que recebemos:

v Não adianta colar a resposta do outro, porque todos vocês podem mentir e refazerem os seus testes em casa, longe dos colegas.

v As respostas são sérias e devem ser lidas com calma. Essas respostas não são as nossas respostas a vocês, são as respostas de vocês que levaram ao resultado e a conseqüente leitura do texto indicativo.

v Não adianta responder sobre o que vocês consideram o ideal, vocês não agem como uma resposta ideal, ninguém age. Sejam sinceros com vocês mesmos e descubram-se diante do que é apresentado e proposto nos testes.

v Não ficaremos com os testes e com as respostas. Levem para casa, joguem fora, queimem, façam o que quiserem com elas, não é da nossa conta saber sobre a intimidade de vocês. Se bem que, as dúvidas serão respondidas aqui mesmo e, de certa forma, nós os conheceremos também.

v O propósito desta semana é que vocês possam lidar com vocês mesmos, conhecer as reações diante de situações inesperadas pode facilitar uma resposta de autocontrole previamente concebida.

v O mundo é competitivo, não saiam por aí falando de vocês mesmos, aprendemos que tanto a verdade quanto a mentira podem ser ditas com amor e com ódio. Assim vamos bem vestidos ao hospital, levamos flores e dizemos que o paciente está com uma ótima aparência, somos bons. Assim dizemos à colega rival que a acne dela é purulenta e que ela poderia se afastar para um tratamento e somos maus.

Nesse tempo a privacidade era possível, hoje temos que aprender a conviver com a falta de privacidade que beira à falta de respeito e ética. Uma semana dessas, hoje em dia, seria bastante divulgada na mídia, todos os “alunos” com os celulares a postos, uma filmagem para o Youtube com uma gozação entre os grupos e as suas respostas seria normal. Ah! Todo mundo zoa com todo mundo, isso é normal.

Às vezes, penso que tem gente que quer saber muito do outro pela dificuldade de lidar com ele mesmo. É também uma perda de tempo preciosa gasta numa curiosidade infrutífera, mas está funcionando assim, é o que eu vejo.

Também penso que estamos na hora de criar uma tecnologia a favor da privacidade, até mesmo uma defesa especializada para essas invasões realizadas por grupos de interesses diversos e, porque não dizer, interesses ruins.

Imaginem uma semana dessas com todos os resultados divulgados em um blog ou analisados pelos especialistas em um trabalho postado no Google, livre para pesquisas.

Seríamos cobaias humanas para os internautas, para os terapeutas e para os marginais que se divertem a custa dos nossos dados pessoais.

Termino sendo repetitiva, É HORA DE CRIAR UMA DEFESA E GARANTIR UM MÍNIMO DE PRIVACIDADE AOS CIDADÃOS.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Preguiça

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O vento que seca a roupa

Lavada se mostra forte;

Levanta varrendo a sorte

E a poeira da terra, rouba.

 

Não mede esse esforço à louça

Do tanque na esfrega; dorme

E ignora essa pedra, corre

E faz o desgaste à força.

 

Reclamo e me queixo à toa,

Tolice de esbórnia é trote

E lavo de novo o short.

Preguiça tem cura e voa…

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Foi Assim

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Marina fugiu para se casar com Nelson. O pai dela não aceitou o namoro, mas Nelson queria casar.

O pai dela disse:

_Nesta casa ela não mais pisará, desrespeitou a minha casa e escolheu um malandro, um oportunista. Ela que conheça a vida de mulher de malandro sem o meu apoio, que aprenda com a vida.

O pai dele disse:

_O meu filho não tem dinheiro para se sustentar agora, mas é honrado. Dou a casa dos fundos para eles morarem e uma cesta básica até eles se ajeitarem.

Quando nasceu a neta Mara, um ano e meio depois de casados, o pai dela disse:

_Cuidarei da minha neta sem que a minha filha saiba.

O pai dele disse:

_A nossa amada Mara é mais uma boca para alimentar, a minha neta será bem nutrida. Economize para a educação dela, faça-me este favor.

Marina ouviu a conversa e disse que tinha arranjado um emprego e que iria ajudar nas despesas. Nelson a abraçou orgulhoso da mulher que era a mãe da sua filha.

Mas Nelson não teve que pagar estudo nenhum, a menina parecia ser querida de todos e ganhou bolsas de estudos em várias escolas. Ele e a mulher escolheram o colégio onde a mãe havia estudado que além de conhecido era afamado pela alta qualidade de ensino.

Em contrapartida, Nelson não progredia, estacionou no lugar onde estava quando se casou. Com família para cuidar, estudar era difícil e ele desistiu. Na cidade pequena, os amigos do pai de Marina aceitaram a idéia que ele era malandro e concluíram que não adiantaria ajudá-lo, vício de caráter não tem cura. Marina era recepcionista de uma clínica de estética, local ao qual se adaptou com certa facilidade, mas também não alçou voos maiores na carreira.

Mara crescera bonita e saudável, logo arranjou um bom emprego. Esse bom emprego jogava a realidade das vidas a Nelson e Marina. Ele sentia um misto de vergonha, raiva e culpa pela vida que levava. Ela se realizava na filha e matava a saudade dos tempos fartos na casa do pai contando da mocidade à moça. Contava também da fuga e da mudança radical no estilo de vida, mas dizia que tinha valido a pena.

Mara conheceu um jovem industrial e se casou com ele. No dia do casamento, na festa paga pelos noivos, o pai se sentia um convidado de honra no seu terno escuro e na gravata sóbria no tom prata, e nada mais do que convidado ao casamento da própria filha onde exerceria a função de apresentação da noiva. O vestido usado por Marina, alugado, era verde-escuro com bordados de pedrarias em tom de cristal com um barrado amplo, decote V na frente e uma gota terminando o decote nas costas. Acompanhava um sapato de salto alto forrado com o mesmo tecido do vestido e uma bolsa niquelada no tom prata. Marina sentia-se fantasiada de “como seria se não fosse”.

No dia seguinte ao casamento da filha, Nelson sai de casa e vai embora. Antes de ir, pede à Mara que cuide da mãe quando voltar de viagem, que dê a ela algo melhor que a vida medíocre que ele proporcionava a ela. Marina não queria acreditar no que via, mas a atitude dele foi forte e ela não pensou duas vezes antes de ficar só.

Não adiantou nada quando o pai dele disse:

_Você não encontrará ninguém que seja desprendida do conforto quanto Marina.

O pai dela soube e comentou:

_Agora ela aprenderá a dar valor ao que jogou fora. Talvez com o malandro fora da área, ela saiba o que é sensatez.

Em poucos meses Marina adoeceu. Nelson veio vê-la, mas os dois decidiram pela separação apesar da tristeza. Ele queria ficar longe da filha e do genro, cuja presença o angustiava e dava razão ao sogro. Ela queria a companhia da filha e do genro sentindo-se uma mãe realizada com a educação primorosa dada à filha.

Idade e doença são coincidências previsíveis, mas Marina chega à velhice. Ainda hoje diz que não se arrependeu da vida que teve. Nelson vem visitar a sua velhinha, mas a quer como amante, esposa nunca mais.

domingo, 14 de agosto de 2011

Íntima Grafia

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Casaco velho e surrado que me aquece

No frio, conforto do dia que não se vai;

Não acaba rápido o amor que me enternece,

No encontro que hoje tivemos sossegai.

 

Sem dores dúbias, sem mágoas e sem prece

Ou culpa, nasce o respeito que me atrai;

Sublime afeto que a física nos tece,

Fricção e calor, aconchego que não sai.

 

Afeto quântico e cálido que acorre

Os anjos, servos do Pai maior que nos guia

E orienta nessa jornada que se escolhe.

 

A vida conta, e o casaco diz à sorte

Que o amor eterno não cansa, ele se encobre

E pulsa lépido na íntima grafia.

sábado, 13 de agosto de 2011

Não Basta Saber Dirigir

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Quando tirei a carta de motorista, o meu pai disse:

_Filha, não basta saber dirigir. Você tem que saber que a máquina mostra os sinais quando está com problemas e levar ao mecânico. Vamos sair juntos alguns dias e vamos aprender mais sobre a condução do veículo.

O meu irmão remedou:

_Pai, ajude ela é uma porta e não sabe nada de motor.

O meu pai o corrigiu:

_Burra é palavra que não se diz. Ela é inexperiente e eu vou ensiná-la a lidar melhor com o carro.

_Pai, deixa que eu ajude dirigindo para ela.

_Não.

E assim fomos ao shopping comprar uma calça jeans e estacionamos do lado de fora do shopping. Quando voltamos o pneu estava furado, no chão. Trocamos o pneu, peguei o macaco e o estepe e ele fez a força. Ensinou-me a fixar a roda com toda a força nas porcas e parafusos.

Passou um tempo e a troca de marchas estava ruidosa. Ele me olhou e disse:

_Eu disse para você não descansar o pé na embreagem. Você vai comigo ao mecânico.

Dito e feito, o colar da embreagem estava gasto e as marchas estavam batendo. Aprendi a reconhecer um colar de embreagem.

Aos poucos fui lidando com os barulhos e para ouvi-los, o rádio tem que estar com um volume mínimo. Nada de ouvir música em som alto e não prestar a atenção devida ao que acontece com o veículo.

Todos os barulhos que eu ouvia, eu chegava e contava.

_Esse barulho é bate-lata sem importância, peça para engraxarem as portas, que some.

Houve o dia em que eu cheguei contando que a direção, naquele tempo, mecânica, fazia um barulho do tipo “Clark” quando eu virava para a direita.

_Esse é um barulho que exige atenção. Vou ao mecânico sozinho e mandarei desmontar a direção.

Dali a pouco o telefone toca:

_Filha, parabéns! A direção estava quebrada por dentro, salvamo-nos todos.

Saudades boas! Desejo a todos um excelente final de semana.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Previsão

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Bom é observar o futuro,

Melhor seria conservar

O agora. Para um prelúdio,

Preciso do hoje ao luar.

 

O estar solto ergue um refúgio

Preenchido ao nada se dar,

Mas doar-se cria um aqueduto

Que liga o feito e o sonhar.

 

Passado é fato e conteúdo

Que roça no hoje a coçar,

Lembrando do ontem, o fuso

Horário, prá não voltar.

 

Presente é dia que, maduro,

Entrega aos poucos o andar;

No passo urdido e profundo,

Nas horas duras do agá.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Flash

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_Eu e o meu marido viemos para o Brasil quando engravidei do meu segundo filho. Na China tem muita gente.

_Os meus pais tinham um comércio em Moscou. Para que discutir com o governo? Mudamos.

_Eu era jovem e não sabia o que queria da América. Aqui eu achei o que querer.

_Viemos fugindo da guerra enrolados em cobertores num trem de carga, tínhamos medo que descobrissem que éramos judeus.

_O tsunami destruiu a casa do meu primo na Malásia, mas ele está vivo. Conversamos ontem pela internet.

_Viajo para a Polônia todos os anos. Amo dois países.

_Eu sou de Cuba e trabalhava para o governo, mas Che fez a minha cabeça e hoje sou pan-americano.

_Eu vim me despedir. Vou me casar com um parente distante no Líbano.

_Sou filho de gregos, somos quase italianos, mas os nossos deuses vieram primeiro.

_O respeito ao idoso é o respeito à sabedoria e um agradecimento à vida. Yoya não, Yayá, aprendi. Obrigada.

_A fome de vocês é melhor que a fome na África, eu não vejo pessoas morrendo de fome nas ruas enquanto buscam comida.

_Experimente este pão com schimia, a receita é tradicional da Alemanha, um sabor inigualável.

_Deixarei o seu piano tão bom quanto um bandonion.

_Português que não tem imensos sentimentos não é português.

_Em casa de italiano que manda é a mamma, depois da nonna.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Padrão Elementar

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A terra engole

O que a água volve

E o fogo queima

O que o ar respira.

São quatro e só,

O quinto mole

Derrete e lima

E infiltra a seiva.

A essência colhe

Sem ar que molhe

O fogo e a lenha,

Que chora a terra.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Flor de Laranjeira

Flor de Laranjeiraflor de laranjeira

Essa flor de laranjeira

Cheira a amor de vida inteira,

Une e cuida com paixão,

Brisa leve de monção.

 

Branca flor alvissareira,

Brando chá de bem-me-queira,

Quer a luz na evocação

Dessa busca à floração.

 

Flor e folha prazenteira,

Fruta doce tal cidreira,

Faz sabor numa ilusão;

Doce dor de coração.

 

Sonha, sonha a cirandeira

Nessa roda e brincadeira;

Segue o amor sua função

Nessa terra, a semeação.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Balcão de Reclamações–Shakespeare

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Ele veio e trancou a pauta.

_Quando o poeta ou a poetisa pensa em mim e não escreve sobre o que eu fiz, não escreve nada. As ninfas, os sátiros, os reis e as donzelas estão para serem atendidos. Houve um excesso de leitura da minha obra.

Eu reflito que é verdade. Assisti o Rei Lear com Paulo Autran e a companhia de teatro de Londrina que fez performances que extasiaram a plateia. Assisti em DVD Sonhos de Uma Noite de Verão, Tudo Bem Quando Termina Bem, A Megera Domada, O Mercador de Veneza e Henrique VI em duas partes.

Ouvi os madrigais ingleses cantados e declamados, ouvi Mendelsshon, aprendi mais sobre a humanidade do que poderia imaginar e conheço o humor inglês, bastante diferente do humor do resto do mundo.

Sobre tudo o que li e assisti nos cinemas e teatros, ficou uma certeza, a de que o amor é uma fonte inesgotável do esforço diário para que ele seja possível. Muitos passam pela vida e não o experimentam no pulsar febril de um sentimento e o congraçamento de almas.

O amor é, antes de tudo, uma revelação de alma. Pode-se gostar de muitas pessoas e não se amar a nenhuma, apenas nos identificamos e temos afinidades e gostos comuns. O momento da revelação é a transformação do ser em comunhão com um novo sentimento com o qual conviverá por toda a sua vida. Essa revelação pode ser religiosa, fraternal, sexual e profundamente espiritual (pessoas que amamos sem jamais termos convivido com elas). Depois que o amor pulsa verdadeiramente, todo o organismo se modifica e pregamos o bem e queremos o bem do outro desinteressadamente.

A crítica social de Shakespeare é essa, porque tanta interferência no que é sublime? Segundo ele, são as condições da terra, sempre impura, a que todos estamos sujeitos.

Agora, quem reclama sou eu, senhor Shakespeare: somos nós que fazemos as nossas condições e penso que o amor é possível mesmo sob condições que nos são impostas e sob a ótica da falibilidade humana. Se não fôssemos falíveis, amaríamos? No entanto, senhor, penso no amor como vida, como esforço contínuo, penso no amor da mesma maneira como lavo a louça do almoço. As condições presentes na condição humana impõem o esforço para amar, impõem atitudes positivas e despretensiosas.

Nessa sua vontade de que eu fale dos seus personagens, eu refaço a pergunta de Hamlet:

_Amar ou, não amar? Eis a questão. Essa é a grande opção do ser humano, deixar ou não deixar que o amor lhe guie. E jamais desistir do amor, como fizeram Romeu e Julieta. Saber que o casamento é um contrato social realizado com a permissão de todos os que estão ao redor, como nos Sonhos de Verão. A Megera é indomável, quem viu, sabe. Ninguém muda com o tempo, o que acontece é o aprimoramento dentro das condições sociais. Os Reis podem ser loucos porque continuarão Reis, temos que aprender. Os religiosos cuidam de toda uma parte espiritual e a revelação divina independe do credo, a cada um é dada uma visão para que a ganância não se imponha como doutrina, então Deus é inteligente.

Senhor Shakespeare, deixei-o passar pelos meus pensamentos, deixe-me seguir o dia que há muito por fazer.

domingo, 7 de agosto de 2011

Meu Querido Diário

 

                                 

Meu querido diário

Hoje o meu net me fez passar por boas. Eu baixei algumas vezes as atualizações do Windows e todas às vezes o net entrou em pane e todos os ícones ficaram com a aparência de um programa só.

Restaurei algumas vezes até ficar com dor nos braços com o net no colo a pedir mais uma restauração. A poesia incompleta ficou por conta dele, do net. Tem algum vírus que nem um programa conseguiu retirar. Esse vírus bloqueia os ícones e os programas.

Hoje é poesia concreta.

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I

I

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TECLADO

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DEDOSDEDOSDEDOSDEDOSDO

NET

Boa Noite. Volto Amanhã.

sábado, 6 de agosto de 2011

Conversa de Banco

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João chega a sua casa e pega a correspondência. Entre as cartas, havia uma carta registrada com os seguintes dizeres: ”Favor comparecer à sua agência para tratar de assunto do seu interesse.”

João estranha porque o que ganha, gasta. Num dia da semana, na hora do almoço, vai até a agência para saber do que se trata aquela carta.

_Senhor João? Pergunta o gerente.

João apresenta os seus documentos, a carta, e pergunta o motivo da missiva.

O gerente confidencia:

 

O gato se escondia na lareira

Da sala de visitas, mimado.

Pensando na sardinha faceira;

O cão seria em guisado mudado.

 

Edson respondeu:

 

Estava ele invisível à esteira.

Estou muito surpreso de fato,

Jamais imaginei essa rasteira;

Salvou-me de invernada ao gelado.

 

O gerente concordou:

 

O gato não o levou até a cumeeira

Por pouco. Dificulte esse estrago

Que o gato volta atrás à maneira

Antiga, sem mostrar o seu rabo.

 

E disse ainda:

 

O extrato está conforme o acertado,

E vá bem avisado da feira,

Do plano convincente e logrado;

Podado na ingerência certeira.

 

Edson agradeceu a correspondência ao gerente:

 

Sou grato por ter vindo na canseira.

Um cliente com decência avisado,

Que vindo nesse encontro à ligeira,

Aguarda o seu respaldo apressado.

 

     Com tudo resolvido, ele volta do almoço.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O Seu Sorriso

Um sorriso

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O seu sorriso me trouxe a paz.

Eu precisava, pensava sim,

E acalentava você na graça;

 

Eu te encontrava num verso audaz

Enriquecendo a ilusão sem fim,

E bendizia esse vôo nessa caça.

 

De um dissabor, o lirismo afasta

 

Os personagens que dizem “Fim”.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Minicrônica Completamente Incorreta

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Depois de ir ao salão me arrumar, fui ao supermercado. O chocolate estava em promoção e fui até a seção de doces.

Passa uma senhora com o filho pequeno que diz:

_Mãe, compra um para mim?

A mãe responde:

_Filho, eu quero um vestido novo, você compra para mim?

O menino responde:

_Mãe, isso aqui tem gosto de remédio, não compra não.

A verdade às vezes tem gosto de remédio. Não diga que não riu neste momento.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Dobradura

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Uma garça de papel

Voa leve nesse breve

Tempo de cor e pincel;

Dobra a curva, faz a sebe.

 

Tendo um lápis por cinzel,

Firma a pena que recebe

Riscos, traços e um corcel,

Abre o sonho que se quer.

 

Vinca o traço nesse léu,

Forma bela que precede

Algo bom e doce, mel;

Trova o sonho que se escreve.

 

Abre e fecha um mesmo céu,

Dobradura d’uma sebe;

Dobra o vento no seu véu,

Faz da forma o que concebe.

Aviso aos Amigos e Amigas

A partir de hoje acompanharei os blogs de maneira diferente. Com essa nova maneira de acompanhar, comentarei vários posts com um comentário que em princípio se rá semanal.

Como todos sabem, as férias escolares acabaram e está na hora de deixar o possível para ser feito da melhor maneira possível.

Continuarei lendo todos vocês, mas de forma organizada em tabelas de leitura.

Um abraço, Yayá.

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terça-feira, 2 de agosto de 2011

Um Defensor das Mulheres / Boccaccio–Decamerão

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Decamerão – Boccaccio

Giovanni Boccaccio nasceu em 1313, em plena época renascentista e também a época em que a peste negra assolava a Europa. Dedicado à literatura, um dos seus mais famosos projetos foi: a biografia de Dante, autor da obra A Divina Comédia, obra que não chegou a ser concluída.

Foi provavelmente lendo a obra de Dante que Boccaccio se inspirou e criou o Decamerão, livro dividido em três partes, a saber: o céu, o purgatório e o inferno.

O Decamerão é um livro dedicado às amoráveis mulheres. Em seu prólogo está um dos mais bonitos elogios às mulheres do seu tempo, sofridas e cobradas demais pela cultura em meio a tantas perdas e sofrimentos durante a fuga da doença, a peste negra, que dizimou milhares de pessoas. Ele conta que a amoralidade não é um vício, visto que não há a intenção de ofender a moral; a amoralidade é o desconhecimento da transgressão das virtudes eleitas em determinada época. Eram mulheres que perdiam toda a família e os meios de subsistência e ficavam vagando em grupos compostos de homens e mulheres por lugares estranhos em busca de alimentos. Naquelas circunstâncias não se poderia exigir um comportamento moral rígido por parte delas, especialmente delas que estavam expostas a todas as dificuldades sem perspectiva até mesmo de sobrevida.

O Decamerão é um livro que diverte, instrui e edifica um comportamento razoável a essas mulheres e, embora contenha contos bastante moralistas, ele as libera para o amor. No entanto, fica claro que amor não é concupiscência e em nenhum momento ele prega a libertinagem. Analisando assim, parto do princípio elaborado pelo autor, o livro é amoral, jamais imoral, embora assim tenha sido considerado por alguns séculos após a sua escrita.

Giovanni Boccaccio preservou a mulher dos castigos da sua época e, afinal, de que adiantaria que elas não se contaminassem com a peste negra se, quando se achassem a salvo, fossem punidas pelo comportamento pouco exemplar e deixadas como parias de uma época.

Lembremos também da época anterior, onde a mulher era absolutamente submissa aos preceitos impostos pela sociedade e, a punição poderia começar com um apelido de feiticeira e acabar na fogueira. Não cabe discutir os períodos e nem é a minha intenção discutir a época e os seus problemas. Ocorre que essas mulheres receberam o apoio para continuarem as suas buscas de vida familiar sem contar com os ritos religiosos necessários para a formação de uma família.

Era uma época em que as mulheres tinham que decidir se buscariam a vida ou aceitariam o que a fatalidade lhes proporcionasse. Giovanni nessa obra foi ao mesmo tempo humanista e realista. Não haveria outro jeito para salvar tanta gente da morte e onde havia um cadáver, havia a contaminação, mais doentes, mais mortos, um sofrimento irreparável para as crianças, filhos e netos desamparados.

Giovanni Boccacio foi um homem do seu tempo, mas com uma visão muito à frente do seu tempo. Ainda hoje, há rodas pudicas onde o livro é considerado um livro de maus conselhos.

As pessoas de má índole existem, é fato. Mas a má índole também passa por se exigir de alguém um comportamento que leve esse alguém à doença e ao sofrimento, ou, até mesmo à morte.

É importante salientar que Giovanni em nenhum momento aconselhou-as a transgredirem a lei, muito ao contrário, que se obedecesse à lei, mas que procurassem o seu bem estar independentemente de estarem em acordo com a moral ou estarem de acordo com as imoralidades.

Para concluir, posso dizer que ao ler, os leitores rirão muito e refletirão muito mais depois que fecharem o livro, mas poderão ajudar às muitas mulheres que ainda hoje passam por situações constrangedoras em diversos locais do mundo.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Pureza D’alma

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Dançam em ciranda as consagradas

Virgens, que louvando a pureza,

Oram a favor do fim das chagas

Santas com vestais de sutileza.

 

Fitas que se movem circundadas

E altas, entrelaçando na beleza

Alva as emoções unificadas,

Soerguem um altar à singeleza.

 

Rufam os tambores às amadas

Chamas, que ao Sagrado é mesa

Posta, ritual de velas guiadas,

Bênçãos d’uma crença benfazeja.

 

Flautas que impressionam afinadas,

Clamam pelos fiéis à Fortaleza;

Santas são as vigílias alcançadas,

Velas que são luzes dessa igreja.