Rio de Janeiro

Rio de Janeiro

http://frasesemcompromisso.blogs.sapo.pt/

O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

sábado, 16 de julho de 2011

O Menino Que Queria Ser Jóquei

O Menino Que Queria Ser Jóqueiclip_image002

Um homem elegante levava o seu filho para assistir as corridas do turfe. Durante essas corridas, o garoto desaparecia. Terminavam as corridas e o pai esperava o garoto aparecer.

_Ah, pai; eu fui ver as baias de onde os cavalos saem. Desculpe a demora.

O homem vinha embora conversando com o filho.

O garoto crescia e, aos treze anos, numa das saídas, resolveu enfrentar o pai e dizer da sua decisão.

_Pai, quero ser jóquei. A verdade é que eu tenho conversado com os tratadores, com os proprietários. Pai, você sabia que um jóquei nunca espora o cavalo? Ele é despedido na hora se, a espora fizer o cavalo correr de dor; é contra o regulamento. Pai, você sabia que um jóquei ganha bem? Pai, você sabia que a cocheira é muito limpa e os cavalos tem bastante mordomia, que até o salitre é importado, que quando eles espumam é mau sinal?

Um pai disse que, se depois de terminar os estudos, o garoto quisesse ser jóquei, ele deixaria. Mas, com treze anos a resposta era não.

O garoto ficou indignado, mas tinha que estudar e obedecer, mesmo a contragosto.

O garoto cresceu e se transformou num economista, um economista magoado por não ter sido jóquei. Casou, teve uma filha, e, doze anos depois, enviuvou.

Ivan tinha que educar a filha, sozinho. Aos finais de semana ia ao interior onde tinha um sítio. Comprou uma carroça e dois cavalos e saía com a filha durante as manhãs.

_Filha, senta ao meu lado. Temos dois comandos, um é meu e o outro é seu. Vamos levar os cavalos ao riacho beber água.

Ao ver uma reta, com o caminho plano, ele dizia.

_Filha, é hora de soltar o freio, nós os deixamos seguirem soltos.

Ao ver uma ondulação no terreno, ele dizia:

_Filha, segure o freio. Eles não podem desembestar agora. Se eles correrem, eles podem cair e nos derrubar. Um cavalo com a pata quebrada é sacrificado, e se cairmos, podemos quebrar o osso da bacia e eu não quero isso nem para você e nem para mim, muito menos para os cavalos.

A filha aprendia tudo, mas era uma menina e queria dizer palavras de menina.

_Pai, me ensina o que é ser moça.

Ivan engasgou e continuou:

_Ser moça não é difícil, é se arrumar, se comportar, namorar um moço com a permissão do pai e casar com um moço trabalhador, além de cuidar dos cavalos e manter o sítio para ter o que comer em caso de viuvez.

_Pai, como eu saberei tudo isso, sem a mãe para me ensinar?

Essa pergunta doeu. Ivan conteve a emoção e respondeu:

_Eu ensino. Você estará pronta quando os cavalos da emoção e da razão estiverem emparelhados e alimentados. Nunca use esporas nos cavalos, são cavalos especiais e merecem o seu carinho. Mantenha a carroça com toalhas brancas de renda, use chapéus bonitos para se proteger do sol e sorria para o seu futuro.

A menina entendeu e beijou-lhe o rosto.

_Falta ensinar mais, pare a carroça quando os cavalos espumarem deixe-os descansar na sombra, mantenha as ferraduras sempre em ordem e os cascos protegidos, são sapatos para os cavalos. Respeite a égua no cio e não se aproxime, esse momento é dela e ela fica muito sensível. Cuide da égua quando ela estiver prenha e depois deixe que ela amamente os potrinhos nessa paz de mãe. Os cavalos são diferentes das éguas, mas são bons, são amigos, são sensíveis, não pense que um cavalo não sente, ele sente diferente.

Nisso chegam ao riacho, desatrelam os cavalos das carroças e os deixam livres para beber água.

Marina, a filha, tira a cesta com o lanche dela e do pai, os dois sentam-se à beira do riacho.

A mocinha, pergunta ao pai como é que ele sabe tanto.

_Eu queria ser jóquei, mas o meu pai quis que eu estudasse. Ele continuou indo ao turfe, mas eu tinha que estudar. Isso agora não importa, hoje, não sei por que, estou feliz. Uma sensação de plenitude me invade, acho que é o dia bonito, o riacho, estou vendo você crescer de uma maneira saudável, não sei, hoje estou bem.

Pai, filha e cavalos em paz.

21 comentários:

jorgil disse...

Bonito o conto. A moral é que devemos procurar ser felizes naquilo que está ao nosso alcance!

Lena disse...

Yayá,
Muito legal essa história, com excelentes diálogos e bela conclusão. Minha linda, beijokas e um lindo fim de semana!

Anônimo disse...

A vida é assim, cheia de atalhos, mas no fim chegamos ao manancial de águas que de alguma forma sacia nossa sede.
Beijokas doces e uma tarde de sábado de muita paz.

Maria Luisa Adães disse...

Interessante o que nos conta.

Só a mãe fez muita falta, mas a vida do pai não foi aquela que ele desejava.
Ele gostava de cavalos queria ser Jóquei e o pai não deixou.
Ele tinha apenas 13 anos, teria de passar mais tempo E o tempo correu e nada foi como pensou.
Mais tarde ele podia ter resolvido sua vida, mas quase nunca seguimos na vida aquilo de que gostamos mais.
E normalmente, sem ser normal, isso acontece. Gostei!

Maria Luísa

Peônia disse...

Querida final de semana maravilhoso pra ti.
Beijo no coração!

Anônimo disse...

A gente está lendo e parece que acompanha tudo, como se estivesse ao lado. O que diz bem de quanto consegue transmitir.

Ingrid disse...

gostei! lindo texto..
beijos

Severa Cabral(escritora) disse...

Texto convitativo...nos deixa a refletir...
Prá ti um fim de semana feliz

Vera Lúcia disse...

Yayá,
Gostei muito do conto e das lições aplicadas.
Beijo e um lindo fds.

Majoli disse...

Oi Yayá, vim retribuir teu carinho lá no rabiscos e aproveitar para conhecer teu cantinho.
Gostei muito do seu conto, muitas vezes a gente sonha, quando mais jovem, em ser algo no futuro, mas as coisas não acontecem como a gente planeja.
Mas no final do conto, senti a paz do pai junto a filha e os cavalos.
Gostei muito.
Parabéns.
Tenha uma linda noite e um domingo de muita paz.
Beijos no ♥

Zé Carlos disse...

Lindo seu Blog e muito linda vc..... Um domingo maravilhoso para ti.... Bjs do ZC

Reflexos Espelhando Espalhando Amig disse...

Ei!
Que belo espaço.
Bjins entre sonhos e delírios

Aclim disse...

Então, o pai, a mãe são decisivos na vida dos filhos. Bom quando podemos nos realizar, melhor ainda quando podemos estar em paz e sermos felizes.

Abraço Yayá

MARILENE disse...

Não se rouba sonhos nem se impõe profissões. Por mais que as pessoas se "realizem" em outros caminhos, o vazio da frustração permanecerá.

Bjs

Universo paralelo disse...

Adorei o conto,afinal de contas o que importa é ser feliz, beijos e bom domingo!

Antônio LaCarne disse...

lindo texto, tão bem escrito e inspirador. está de parabéns, quero sempre passar por aqui, e já sigo o blog, grande abraço.

Loiva disse...

Amei essa história, ainda bem que o pai não repetiu com a filha os mesmos erros do seu pai, quisera que todos os pais tivessem essa visão de vida... bjs Yayá..

ONG ALERTA disse...

Sonhar e poder realizar...beijo Lisette.

Lia Noronha disse...

Bela historia...emocionante!
abraços mil!!

OceanoAzul.Sonhos disse...

Fica o conto, com grande moral.


um abraço
oa.s

Anônimo disse...

Sonhos interrompidos. História cheia de ternura entre pai e filha. Lindo também o amor e o respeito aos animais. Adorei!
Beijos da Marie