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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Aprendendo a Ler com Fiódor Dostoiévski

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Com Fiódor Dostoiévski

A menos que seja obrigatória a matéria de literatura estrangeira, o leitor comum adquire um livro sem saber exatamente como vai ler, ele compra por motivos outros que de estudo.

Suponhamos que eu tenha comprado o livro Notas de Subsolo de Fiódor Dostoiévisk. Quais foram os meus critérios de compra? Considerei a respeitabilidade e o nome da editora na tradução do texto. Ora, eu não falo russo. Verifiquei a edição e se o texto integral constava do conteúdo e não era uma edição facilitada com cortes. Não levei em consideração a capa do livro e sim, o preço e o texto.

Antes de abrir o livro para ler, leio as informações contidas na contracapa e percebo que a biografia do autor é reduzida para diminuir o custo. Mas como é que eu sei disso. É que primeiro eu li Crime e Castigo, com capa dura e um prefácio de algumas páginas que detalhava a biografia do autor.

Agora posso iniciar a leitura. Logo no primeiro capítulo o autor se situa no estilo literário no qual compôs o livro e no capítulo II, uma frase chama a minha atenção: ”_Quero agora contar-vos, meus senhores, quer o desejeis ou não, por que não consegui nem mesmo me tornar um inseto.” Anoto em um caderno de anotações e prossigo ao mesmo tempo em que rio ao pensar que Fiódor ironizou a barata de Kafka.

Paro para pesquisar e descubro que ele foi existencialista e, se ironizou, foi por vontade de fazê-lo. Ao pesquisar, descubro que tanto ele, quanto Aurélio Agostinho de Hipona ou Santo Agostinho combinam com alguns dos meus pontos de vista. Pelo visto a leitura será prazerosa agora que me aproximei e me identifiquei dentro do existencialismo em alguns aspectos.

Esse existencialismo busca o “belo e o sublime” e não rejeita o ridículo e a inteligência. Ou seja, a lógica aliada à estética e aos costumes. O ridículo não existe sem que esteja no plano dos costumes sociais. A proposta de Dostoiévski é tida como uma das melhores propostas para esse movimento literário do qual é o fundador com o livro Notas de Subsolo. Aprendi algo.

A conexão e o porquê da citação da leitura anterior de Crime e Castigo vêm “A Propósito da Neve Fundida”, capítulo de O Subsolo, onde um crime premeditado deixa de acontecer e a vítima é salva por si mesma. Diga-se um capítulo belíssimo onde a alma humana é posta em prova e, o personagem ao sobreviver demonstra que a vida é o patrimônio dela mesma e, que apesar dos sofrimentos ao qual o homem possa passar, é a vida o que se tem por desejar. Pela vida desprezam-se interesses e conveniências que não se sabe de onde surgem e se alguém as sugeriu.

Curiosamente, em diversas passagens do livro, o autor se acusa de romântico e afirma que o existencialismo nada mais é do que um romantismo prático, ele precisa dos seus mimos e pensa com inteligência a respeito disso enquanto o homem estúpido não percebe a própria estupidez ao voltar os seus interesses ao mal, sem se dar conta que a vida é um bem palpável.

O melhor desse capítulo é que o autor brinda o leitor com um poema humanitário do poeta Nekrássov para que o leitor se demore ao ler o texto:

“Quando o ardor da minha palavra persuasiva

Do abismo obscuro do erro retirou tua alma,

Profundamente desgraçada,

E quando, cheia de uma dor atroz,

Torcendo os braços, maldisseste o vício,

O vício que te havia fascinado,

Quando a tua consciência castigando,

À existência passada renunciaste,

E escondendo em tuas mãos teu rosto,

De repente,

Cheia de horror e de vergonha,

Tu choraste...

Ele me fez parar e refletir.

Mas refleti também o comparando com outros autores do mesmo movimento, no caso Samuel Beckett e Franz Kafka e as suas formas de pensar o mesmo movimento. Dostoiévski se diz romântico prático e tem uma elevada consideração ao humanismo enquanto Beckett insiste que existe por e para existir sem necessariamente buscar uma qualidade nesse existir, mas questionando-as uma a uma sem, no entanto, responder as questões. Kafka pensa a existência transcendendo a física, sugerindo que o pensamento é maior que a forma ou a matéria do ser. Tanto que ele se transforma em uma barata, mas pensa como homem.

Quanto a Aurélio Agostinho de Hipona, fico com a frase: “_Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser.”

Termino a leitura. Aprendi a ler.

21 comentários:

Artes e escritas disse...

Amigos, blogarei amanhã...ops. falha nossa...Um abraço, Yayá.

NAVEALMARE disse...

Maravilha Yayá !!!
Vc sempre especial !!!
Bjjj

Alessandra Cantero disse...

Abraços Yayá!!! Vim retribuir o carinho da tua amizade que eu gosto tanto!!! bjos, meu anjo!!!

Majoli disse...

Adorei essa postagem, você envolve com seu jeito de escrever.
Amei esse poema de Nekrássov.
Amei a frase de Aurélio Agostinho de Hipona, "Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser.”
Enfim, amei te ler.
Abraços pra ti Yayá.

OceanoAzul.Sonhos disse...

Sempre aprendemos a ler mais e melhor. Parabéns pelo post.

Kafka, o meu preferido.

um abraço
bom fim de semana
oa.s

O Neto do Herculano disse...

A canção está normal,
basta deixar carregar um pouco.
Abs,
Hneto

MEUS POEMAS disse...

Oi Yayá, passei para me deliciar um pouco com suas postagens e tb para agradecer sua carinhosa visita no dia do amigo!
Um grande bjo e obrigada amiga!
Gena

Artes e escritas disse...

Hneto, obrigada. Quem quiser passar por lá aviso que é uma excelente pedida para hoje. Um abraço e obrigada a todos.

Unknown disse...

Maravilloso llevarte en mi corazón grande aunque pobre....Gracias. Besos.

LBJ disse...

Se aprendeste a ler gostaria de ter a tua opinião sobre a minha escrita, deixo o convite para uma visita…

Zélia Guardiano disse...

"Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser."
Só por isto já teria valido encontrar este seu blog, não fosse , ainda, tudo aqui, um encanto...
Maravilha!
Um abraço.

MARILENE disse...

Você deu uma aula. A leitura exige, mesmo, entendimento, comparação e habilidade em sua escolha. Parabéns! É sábia!

Bjs.

Bela disse...

Post muito inteligente e devo dizer que depois de lê-lo, terei que pesquisar sobre alguns assuntos... hehe
Eu comecei a ler crime e castigo na versão em inglês, mas acho que não foi uma boa ideia, já que já tentei prosseguir na leitura por três vezes e não consegui terminar a obra. Mas depois de ler seu texto, fiquei até animada em tentar lê-lo novamente.
Beijos e um ótimo fim de semana,
Bela.

Célia disse...

Infelizmente, Yayá as boas leituras, o bom entendimento de texto e a participação ativa de leitores escasseiam-se cada vez mais! Então surgem pessoas sem posicionamento político-social e deixam-se manipular como marionetes hiperdesvalorizads! Somos a ferramenta fundamental para uma sociedade mais atuante. Mas, nessa proliferação de "stand ups" - a cultura se esvai... Abraço, Célia.

Vera Lúcia disse...

Excelente post Yayá.
Agora, sim, vou passar a ler com mais conhecimento e produtividade.
Beijos.

aluap disse...

A par da a frase "Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser.”, há uma que gosto muito, que é: "O amor é uma hóstia que devíamos receber de joelhos." (Oscar Wilde).

Um óptimo fim de semana

Aclim disse...

A obra dostoievskiana explora a autodestruição, a humilhação e o assassinato, além de analisar estados patológicos que levam ao suicídio, à loucura e ao homicídio.
interessante, prefiro Kafka é Judeu (gosto dos Judeus)e morreu em um sanatório.

jorgil disse...

Valiosa inserção. Aprendi algo com essa lição de literatura.
Abs.

Milene R. F. S. disse...

Amei o poema de Nekrássov e não li esse livro de Dostoevisk que vc mencionou, mas Crime e castigo sim... um livro bastante denso em minha opinião por sua carga emocional, saí exausta de sua leitura... muito interessante o seu texto Yayá. Beijos!

D. Garcia disse...

Confesso que sou prolixo e escrevo e escrevo e escrevo muito...
Mas, sou impaciente com textos longos. Não me atenho a eles, a não ser que estejam numa folha de papel.

Costumo separar com espaços visuais meus parágrafos para tentar dar ao texto mais leveza. Como não gosto dos textos gigantes, mas os escrevo, tento aliviar a tarefa de quem tenta ler os meus.

Este teu texto, de início, quis me afastar, desculpe-me, tenho pressa - infundada pressa; todavia, como se tratava de algo que me interessa - uma metalinguagem acerca da própria literatura - acabei por me favorecer esse tempo necessário a conhecer tua abordagem, e fiquei maravilhado com a tua metodologia e a perspectiva prática desde a escolha até a identificação com uma obra literária é soberba!

Amei tua fluidez e não conseguia mais me desgrudar dos teus parágrafos. Amei teu estilo corrente. Você é fabulosa escrevendo. Parabéns!!!

Sou amigo da Alessandra S.C. (Palavra e Pensamento) e vim visitá-la por intermédio dos teus belos comentários no blog dela. Noto aqui, tua grandeza de espírito. Passo a te seguir, de agora em diante, com prazer e alegria pela pérola que aqui encontrei: a autora.

Um dia feliz pra você. Abraços.

Marcus Vinicius disse...

pesquisando sobre "Nekrássov" me bati com seu blog! parabéns pelas divagações! vou começar a acompanhá-lo mais de perto =)