Rio de Janeiro

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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Poema Insólito

Poema Insólitoclip_image002

Quem cuida do descuido?

Ninguém! Num improviso

Resolve-se, contudo,

O credo e o seu benzido.

Nessa arte do vale tudo

Que liga esse sorriso

Suspenso e meio confuso

A um décimo inaudito.

Agir nesse impreciso

Requer esforço e estudo.

Deboche que não é visto;

Cuidado é sobretudo.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Calmaria

Calmarialuzes


Noite calma, calmo o vento;
Dorme o mar imorredouro,
Vela o sono o firmamento.


Some a nuvem com o vento,
Desce a terra sem estouro;
Gira a vaga e o cata-vento.


Cada feito tem seu tempo,

Cada flor, o seu tesouro

Indriso publicado no site www.benfazeja.com

Ruasavenida


Ruas sem saída,
Becos de guarita,
Voltas de certeza.


Chove na avenida
Velha e corroída,
Lua que goteja.

Passa o tempo e a vida,
Passa o que corteja.

sábado, 26 de março de 2011

O Vencedor Da Mega

O Vencedor da Megaclip_image002

Começava a semana. João chegou à fábrica aborrecido, mandara fazer a retífica do motor e observava que o carro vazava óleo. Na fila para bater o cartão-ponto, ele se queixava para os colegas:

_Peguei o carro no meio da semana passada e percebi o vazamento quando deixei o carro parado em frente ao supermercado, durante o fim de semana.

Sentia-se injuriado ao pensar que teria que voltar ao mecânico para resolver o problema. Iniciou a jornada de trabalho com ar circunspecto. Os operários se concentram em suas atividades.

Um colega traz a novidade:

_Vocês viram na televisão que o ganhador da mega-sena desta semana é daqui. Deu na televisão que o ganhador é de Diadema.

Outro colega diz que gostaria de ter sido ele.

João lembra que não verificou o resultado do sorteio. Foi ao posto de combustíveis, mandou erguer o carro para ver de qual parte do motor vazava o óleo. Chegou a sua casa calculando que deveria ser um vazamento de bucha e que deixaria o carro após conversar pelo telefone com o mecânico e agendar o serviço para que o carro não tivesse que passar mais de um dia parado.

_Alguém sabe quais foram os números sorteados?

Um colega sabia de cor: 01, 10, 20, 32, 49 e 59.

João havia jogado nesses números. O jogo deveria estar no bolso da calça que vestia sob o macacão. Ele vai ao banheiro e verifica. O jogo está com ele. Ele sente-se desnorteado, foi como se tivesse tomado um soco no estômago. Ele pensa no jeito aborrecido que chegou à fábrica. Se ele conta, o trabalho vira festa. Os seus colegas lutam e ele tem como amigos uns quatro ou cinco colegas dentre os duzentos que lá trabalham. Dividir o prêmio não tem cabimento, a casa para a sogra, o estudo dos filhos, o comércio que ele quer estabelecer, são tantas coisas a serem feitas, tantas compras...

Ele está no banheiro há algum tempo e precisa voltar às máquinas, ninguém precisa saber o que se passa. Esse é o seu pior dia na fábrica, um dia no qual a dificuldade de concentração o perturba, ele sua na testa, é nervosismo.

Na hora do almoço um colega repara que ele está diferente.

_É o aborrecimento com o carro, responde João.

É hora de almoço e ninguém sabe que ele está milionário, nem a sua família, nem o banco. Ele próprio não sabe o quanto ganhou. O nervosismo aumenta. Ele quer ir ao banco e não consegue uma desculpa razoável para sair dali. Depois de muito pensar, lembra do colega Juraci que volta e meia toma laxantes.

_Juraci, eu estou constipado há dois dias. Você me cede um dos seus laxantes.

_É para agora.

João toma dois na esperança que possa sair da fábrica. Não demoram dez minutos e ele sente a barriga roncar. Consegue sair do banheiro no final do expediente, completamente extenuado. Finalmente vai para casa. A mulher serve mingau de amido até que o mal estar passe.

_Mulher, estamos ricos. Precisamos ir ao banco em São Paulo. Assim ninguém desconfia. Compre as passagens na rodoviária e vamos embora. Arrume as crianças, as malas, que, de madrugada, partimos.

_E a mamãe?

_Vai junto!

Com essa estratégia, dois dias depois, a cidade inteira soube quem havia ganhado a mega-sena. João aguarda seis meses e volta a Diadema. Monta o seu comércio. Chama os amigos para trabalharem com ele. Ele ficou rico e gerava empregos, a vida de operário ficava no passado. Assumir a sua nova condição implicava em contornar as resistências, um desgaste esperado, não era fácil enriquecer. Agora se sentia obrigado a estudar e o conhecimento doía. Com muita força de vontade vencia a si mesmo. O sonho da loteria não era mais sonho, o ponto de vista era outro, a vida de chefe é difícil na medida em que a responsabilidade sobre o padrão de vida das várias famílias dos seus empregados estava em suas mãos. Mas ele, João, era o mesmo, e duvidava que alguém na cidade soubesse. O dinheiro dele cegava os seus amigos.

A mulher dele o chama para dormir. Ela veste uma camisola de malha de algodão nova e barata. Veste a cama com lençóis floridos e baratos. Uma colcha de supermercado enfeita a cama.

João sorri. Ela era a mesma.

quinta-feira, 24 de março de 2011

PRIORIDADE - UM POEMA GEOMÉTRICO

Prioridade

Prior

Vaidade clip_image002 Vontade

Piora                                                       Por

Vontade.                                        Vaidade;

Cipó,                              Pior a

Vendável                     Cidade

Prioridade

terça-feira, 22 de março de 2011

Complemento

clip_image002Complemento

Virtude que eu não tenho

Encontro em outro ser

Que faz do meu desenho

Pintura. Conhecer

O novo com o cenho

Desfeito ao conceber...

Reflito e assim compreendo

O que é reconhecer

Um mérito ao bom senso.

Libero, ao conceder

Razão nesse talento,

Gostar desse saber.

domingo, 20 de março de 2011

Ao Fogo Brando

Ao Fogo Brandoclip_image002

A manta que se veste,

A sopa que se esquenta,

O outono que se esquece

Do inverno que aparenta.

À tarde, que se aquiesce,

Acresce. O que se inventa

Encaixa ao que parece

Ao forno uma polenta.

Quem dera que estivesse

À venda o que apascenta;

E o fogo, meio indolente,

Unisse a referência.

quarta-feira, 16 de março de 2011

A menina e a Vaca – conto baseado em fatos reais

clip_image002 clip_image004                      A menina e a Vaca

Era uma criança saudável. Maria estava crescendo e adquirindo maus modos e dizendo palavras que ofendiam os outros, assim ela chamava as pessoas de caipira e dizia que o mato era para tateto. O pai e a mãe se irritavam com o comportamento da menina.

Um dia, quando o seu Aliam bateu palmas no portão como fazia todos os dias às seis horas e trinta minutos para deixar as garrafas de leite em um litro de vidro. Maria avisou em voz alta mãe que o cavaleiro do leite havia chegado e riu-se apelidando o leiteiro. A mãe olhou para o marido, que sorriu amarelo e disse:

_Deixe que eu pego o leite e falo com o homem.

Manoel foi ao portão e pediu desculpas pelo apelido dado pela filha, disse que ela andava apelidando todas as pessoas e causando constrangimento.

_Coisa de criança, seu Manoel. O senhor nem deveria se preocupar. Mas eu queria falar com o senhor. No próximo sábado, os cavalos da carroça (o leite vinha em carroça nos anos 60) vão trocar as ferraduras que estão gastas. Eu não poderei trazer o leite e eu preciso que o senhor vá à chácara pegar o leite. Eu quero mostrar a nova vaca que eu comprei. O negócio do leite está mudando, abriram uma cooperativa e eu perdi parte da freguesia. A vaca Mimosa é da raça holandesa, dá muito leite e está salvando o meu comércio. Temo ainda me associar, eu não sei se vou lucrar com esse novo leite. O senhor já pensou no leite em saco plástico? Leve a sua esposa e a menina. Assim o senhor se distrai e a Maria brinca na chácara e se esquece dessas bobices da idade.

O Manoel pensou que seria uma boa lição para a Maria, que não iria ao parque no próximo sábado. Conheceria a vida no campo.

_O senhor deixa a menina ver a vaca de perto, perguntou o seu Manoel ao senhor Aliam.

_A Maria vai tirar leite da Mimosa, mas guarde segredo.

Apertaram as mãos e se despediram.

O sábado chegou e Maria soube que não iria ao parque?

_O quê? Eu vou perder o meu passeio de sábado?

Laura, a sua mãe, disse que sim.

Chegando à chácara, Maria observou o lugar. Uma casa azul, de madeira, um quintal enorme, crianças menores que ela. Ela tinha 10 anos e as crianças tinham quatro e cinco. A esposa de Aliam ofereceu biscoitos feitos em casa para todos.

_Não se preocupe, dona Ana. Viemos pegar o leite.

Ana contou que o marido não havia chegado do ferreiro ainda. Conversaram todos e se apresentaram as crianças.

Passada meia hora, chega Aliam e os dois cavalos com as ferraduras brilhando de novas.

_Bom dia, senhor Manoel. Vamos pegar o leite que eu estou atrasado até com a ordenha.

Aliam contou que a vaca era ordenhada diariamente às dez horas da manhã. Caminharam juntos até a Mimosa.

_Seu Manoel, hoje a Maria vai me ajudar a tirar o leite, o senhor deixa?

_O senhor garante que a vaca é mansa?

_Garanto.

Manoel e Laura olhavam a uma distância de cinco metros a cena.

Aliam chegou ao lado direito das tetas da vaca, assentou-se no banquinho de madeira que ele fincou no chão embaixo da vaca, colocou o enorme vasilhame prateado entre as pernas e ordenou que a Maria ficasse ao lado da vaca e não entrasse embaixo da mesma.

No silêncio da chácara todos ouviram as recomendações do homem:

_Maria, não vá caminhar agora. A vaca não pode se assustar. Se ele se assusta, ela dá coice e eu derrubo o meu vasilhame no chão. Se o leite derramar, somente amanhã beberemos leite.

Seu Manoel, ligeiramente ansioso, perguntou se a Mimosa estava prenha. A barriga da vaca estava enorme.

_É leite, senhor Manoel. Se a ordenha não for feita, senão o ubre intumesce, incha e inflama.

À medida que Aliam tirava o leite sob os olhos atentos da Maria, a vaca mugia:

_Hummm...

Aliam explicou que ela sentia alívio. Esse mugido era de alívio.

Quase no final da ordenha, veio a novidade:

_Agora é a vez da Maria.

_Eu? Eu não sei fazer isso!

Aliam ensinou a menina a puxar a teta da vaca que estava mais próxima da menina.

No que a menina puxou, a vaca mugiu e se mexeu:

_Muuuu...

_Maria, a Mimosa me contou que você puxou demais e a machucou. Não é assim. Tente de novo.

Maria puxou bem devagar e não saiu leite. A vaca olhou para o lado para ver o que estava acontecendo. Nem a vaca entendia aquela ordenha.

_Maria, tente de novo. Disse Aliam.

Enfim o leite saiu e caiu no vasilhame largo o suficiente para não haver perdas.

_Assim é que se faz. Aprendeu. A gente tem que ensinar tudo o que puder para as crianças, disse Aliam olhando para Manoel. Eles aprendem a dar valor a cada uma das atividades. O meu pequeno, de cinco anos, vem acompanhado da Ana e fica vendo a ordenha. Quando ele fizer sete anos, eu quero que ele aprenda a tirar o leite e que me acompanhe aos finais de semana na entrega. Se é que a entrega ainda existirá, se é que o leite em saco plástico não vai me levar à falência.

-Ânimo homem. Se o leite em saco plástico vingar, você entra para associação das cooperativas.

Os litros de leite estavam entregues em mãos. O leiteiro agradeceu e o senhor Manoel agradeceu em dobro. Na volta para casa o Manoel foi dizendo à filha se ela reparara na educação daquela família, no respeito com que se trataram e o quanto fora agradável aquela manhã.

_Eu estou errada?

_Está. A educação abre o caminho para a boa convivência e você não se comporta bem quando desfaz dos outros.

Maria não mais brincou daquele modo e não esquece a lição. Por mais que o outro seja mal educado, o problema que seja dele e não seu.

terça-feira, 15 de março de 2011

D. Pedro I – um poema histórico

clip_image002 Independência ou morte - Pedro Américo

D. Pedro I

Um grito necessário

Ao povo brasileiro

Que espera o mandatário:

_Liberta esse candeeiro

Ao plano imaginado,

Que seu hino vai cantado

De amor a esse terreiro

Na letra do “Estradeiro”,

Poeta iluminado.

Libera o seu teclado

E a voz nesse ribeiro,

Que o povo alforriado

O quer rei alvissareiro.

Um forte e abençoado

Num brado ao brasileiro

Ao largo incentivado,

Nascido de um braseiro

À terra amamentado.

domingo, 13 de março de 2011

Conselho de Domingo

Conselho de DomingoGovaert_Flinck_-_Retrato_de_homem_rodeado_de_livros,_1654Govaert Flinck –                                                  retrato de homem rodeado de livros

A leitura de um bom livro

Aos domingos é um remédio

Cuidadoso e decisivo;

Livrará de todo o meio

Que se pensa negativo.

À igualdade, o reflexivo

E o seu irmão com o seu crédito;

Acrescenta algo ao impreciso

E ao destino, sempre inédito;

Configura o seu caminho.

Esse livro compreendido,

Em metáfora um compêndio,

Que analisa com seu crivo

O perigo e o seu mistério,

Delimita a dor contigo.

Retrato Via Wikimedia Commons (Public Domain)

sexta-feira, 11 de março de 2011

Dispensa a Mercedes!

Dispensa a Mercedes!

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O homem, João, chacreiro levava uma vida modesta e vivia das safrinhas sazonais. Casado, não sossegou enquanto o terceiro filho não nasceu. O mais velho chamava-se Joaquim, a do meio, Constantina e o último Manoel. Três filhos eram à conta da velhice e João, não cansava de aconselhar os amigos nas peladas dos fins de semana.

_ Não percam tempo. Se vocês se distraírem, ficam velhos e, cadê os ajudantes para a velhice. Dividam as obrigações dos filhos para com vocês e, se a onça não passar no terreiro antes da doença, vocês não pesarão na vida deles. Um cansa, o outro ajuda e a do meio reclama que você não deu atenção. Velho e sossegado, vocês e as suas amáveis cúmplices na hora do trabalho de parto. Vamos reconhecer, elas dão uma ajuda danada na vida da gente.

João e a sua filosofia de vida faziam rir os amigos.

_Não tem desculpa para não tratar dos dentes. Eu marco hora na universidade, os estudantes me atendem, os professores avaliam o tratamento e a família fica com um sorriso bonito na fotografia. Melhor que isso, todo o mundo lá em casa come leitão crocante sem reclamar. Qual é a vantagem da safrinha, da venda, se eu não puder comer? A mastigação garante o bucho em bom estado de conservação. O meu bucho bem tratado.

Contador de história, bom de prosa e confiado, o grande fazendeiro da região, de apelido Turrão, resolveu aprontar uma pegada para ele. Em um dia de tempo seco, pegou o seu carro de luxo importado e foi até a chácara do João.

_João, deixarei o Impala aqui para te ajudar. Pode usá-lo para ir à cidade, no campo, virei buscar o carro daqui a três meses. Foi-se embora pensando que o João iria usar o automóvel e por certo estragá-lo. Sem contar que o automóvel era segurado, foi-se embora deixando o carro estacionado ao lado da cerca. João tinha um trator velho e não sabia dirigir.

João não mexeu no carro e continuou com as safrinhas, o trator e a contação de vantagens aos amigos de sempre.

Nesse meio tempo choveu, fez sol, e o Impala no tempo. Na chácara não tinha garagem porque não tinha automóvel.

Passados os três meses, Turrão chegou para buscar o carro.

_João, o meu carro está atolado?

_Choveu Turrão.

_João você não saiu, não experimentou o possante?

_Eu estava plantando e colhendo Turrão.

Turrão, irritado, perguntou como é que ele iria tirar o carro coberto até as portas de barro.

_Eu pego uma corda e amarro no trator. Eu ajudo e dispenso a Mercedes para o senhor.

_Não é Mercedes, é Impala!

_Não adiantou Turrão, eu tentei limpá-la, mas o tempo não ajudou. Turrão, você e a sua mulher têm três filhos?

quarta-feira, 9 de março de 2011

Limites

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Dos Limites impostos por mim

Hão de estar não querer agradar

Sem amar, interpondo um sem fim

De sofrer d’uma vida a pagar.

Um castigo inventado assim,

Desamor cultivado em jogar

Por jogar, sem gostar, querubim

Sem vazão, um se quedar e estreitar

Na visão da ambição; oprimindo.

Hei de estar à alegria ao tentar

Imprimir a palavra de mim,

Na viagem do belo tornar

O impossível num fato, um jardim

Planejado, sem mais limitar.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Quarta e Sono - Poema Sincopado

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Perco o sono,

Ligo o som

Coçam-me os pés.

Sambo só,

Canto o tom

Suo na tez.

Vou que vou,

Nessa dor

Síncope dez.

Terça é gorda,

É o calor

Máximo! Festa.

Trio do bom

Rio cantou.

Quarta já chega.

Cinzas, coro,

Reza o povo,

Fé brasileira.

sábado, 5 de março de 2011

Mas é Carnaval, bom humor – O Atropelado

O Atropeladoclip_image002

Um homem apareceu no bairro de Botiatuvinha, Curitiba, e foi de comércio em comércio com a mesma história:

_Eu fui atropelado no sábado passado e procuro informações sobre o acidente que sofri. Você viu o acidente?

Os comerciantes, em geral, diziam que não viram o acidente e que cuidavam do negócio. Perguntavam a que horas o fato se deu. Dizia também que era uma sem-vergonhice o motorista fugir de prestar socorro e que a cidade estava muito grande e que ninguém mais dava jeito na cidade.

O homem, de calça de sarja e camisa de mangas compridas, continuava:

_Eu não estou me explicando bem. O dono do carro se apresentou na delegacia do bairro, ele não foi desatencioso. Ele pagou todas as minhas despesas médicas.

O comerciante então dizia:

_Eu é que não entendo. O senhor vai de loja em loja perguntar sobre o acidente e o senhor sabe quem foi e não tem o que reclamar!

O homem, então respondeu:

_Na hora do acidente eu desmaiei e não vi nada. A polícia sabe e lá está tudo em ordem. Eu quero descobrir quem chamou o socorro porque eu acordei no hospital e quero descobrir quem me salvou.

O comerciante disse que provavelmente foi o dono do carro. O homem disse que não; o dono do carro sofre de pressão alta e se sentiu mal. Ele se dirigiu ao pronto-socorro antes de ir à delegacia.

_Mas, se está tudo bem, por que o senhor não deixa de lado essa história?

_Eu quero agradecer quem me salvou! Eu sou um homem agradecido, estou vivo e quero agradecer.

Com essa história, o homem conseguiu bater de casa em casa e conhecer todas as famílias do bairro. Conversa vai, conversa vem, ele até ganhou apelido e travou amizade com os moradores.

“Lá vai o atropelado, lá vem o atropelado”, dizia o povo do bairro.

Outro dia, ele apareceu nas lojas para dizer que havia encontrado o “salvador”, o homem que havia chamado o socorro médico. Os moradores ficaram contentes e, alguns, até sentiram saudades do tal homem.

Enquanto isso, em um gabinete da prefeitura, o homem se reunia com o político:

_Doutor, descobri todas as necessidades do bairro Botiatuvinha. O senhor já pode começar a campanha para as próximas eleições.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Leve é a Dor do Astronauta

Leve é a dor do Astronauta

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Guarda contigo a tua dor,

Seja ela azul ou amarela.

Cada um fará o seu pendor

Leve, um penhor livre e singelo.

terça-feira, 1 de março de 2011

Nudez

enxugando_os_cabelos_smallEnxugando os Cabelos – João Werner

 

Nudez

Pegar gravetos como se peixes fossem

Ao mar. Recolhe avencas em infusão,

Aquece ao estar sem horas visando montes,

Em águas mornas, doces sais de imersão.

Paixão d’uns anjos nus nas preces desse ontem,

Aguarda e banha-se em ato de oração

Da seiva em flor, na busca da ultimação

D’ amor fiel numa indizível corte.

Da sorte, nada diz e cala-se a fonte

Em gesto pródigo, fineza e perdão

Na fé que roga, implora e nega um afronte.

Que seja um banho preguiçoso. Não conte

Ao mal das águas dessa libertação

E faz desfeita a mágoa no horizonte.