Conto do Paco
Eunice, órfã, sobrinha de Marina, viúva, sem filhos, decidiram morar juntas. Juntando os salários e dividindo as despesas, sobraria dinheiro para os gastos fúteis. As duas conseguiram economizar mais do que esperavam e guardaram um bom dinheiro após três anos de convivência.
Surpresa, Marina recebe o telefonema de um primo distante, que não a via desde a infância. Era Paco, apelido ganho nas compras a fiado, que os amigos e parentes pagavam. O pai e mãe de Paulo cansaram de avisar que ele um dia pagaria pelos trotes. Ele se divertia e todos à sua volta se irritavam. A “tia” Marina era de costumes sóbrios, mas se queixava de solidão. Para Paco a solidão da “tia” preencheria parte do seu bolso.
Visitou a prima, se queixou tanto que a Marina deu de presente uma cesta com frutas, cereais, legumes e hortaliças. Marina chegou às lágrimas com a penúria de Paulo.
_Deus me livre, tia. Não acredite nele. Ele prega peças desde pequeno. Mamãe me contou a respeito dele antes de adoecer.
Paco ligava de Tocantins para a Marina, que morava em Presidente Prudente. Ele se queixava cada vez mais. Ele não tinha um só motivo para sorrir. Eunice olhava de soslaio para a tia ao telefone. A tia Marina não hesitava e, na melhor das boas vontades, ordenava:
_Eunice vá ao mercado, compre uma cesta básica e mande para o Paco. Compre também doces e frutas.
A moça obedecia. Se ele tinha fome, era bom que alguém ajudasse. Comida não se nega a ninguém.
Passados alguns meses, Paco conta que pensa em comprar um carro. Ele diz que está economizando para a compra do carro. Viu um carro bom, mas faltou-lhe um pouco de dinheiro para dar de entrada.
_Quanto?
_ Mil.
Marina pensa em ajudar, mas hesita e se cala ao telefone.
_Como tem passado a querida sobrinha? Tenho pena de gente tacanha. Muito trabalho?
Marina liga para ele, diz que a Eunice anda nervosa e não entendeu a brincadeira.
Ele solta uma gargalhada e diz que a Eunice mente que ela não gosta dele.
Marina acredita em Paco. Eunice que se mude se está com ciúmes. Os dois recebem afeto.
Eunice impede que a tia envie o dinheiro para Paco, Paulo Alécio. Marina manda um cartão de natal e uma cesta de frutas natalinas para ele.
No final de janeiro, Marina é chamada ao banco onde tem a sua conta-corrente. Alguém falsificou a sua assinatura e tentou tirar o dinheiro, mas o caixa do banco, Arnaldo, que a conhece bem, não reconheceu a assinatura no cheque.
Marina pensou que tinha se descuidado com o talão de cheques. Verificou a bolsa e constatou que o talão estava correto, com o número de folhas certo e as anotações necessárias.
O caixa constata que a folha de cheque é falsa e chama o gerente, que avisa o supervisor da agência, que exige o boletim de ocorrência na delegacia. O gerente convida a Marina para irem juntos à delegacia.
Enquanto isso, em casa, os primos se desentendem de novo.
_Paco, estou falando sério. Cuidado com o tipo de conversa. Respeito é bom e eu gosto, disse Eunice ao telefone.
Ele se diverte e diz que assistirá uma missa na intenção da alma de Eunice, a beata.
Marina volta para casa e conta o que se passou durante a tarde.
O banco controla a conta da Marina, quem falsifica um, falsifica um milhão de cheques.
Passam-se dois meses. O banco pede a Marina para que vá à sua agência, o falsificador fora descoberto.
Marina vai contente. Eunice a acompanha. Elas querem saber o nome do malandro.
_O nome é Paulo Alécio, dona Marina.
Marina entra em estado de choque e vai ao hospital. Quando melhora, liga para o Paco:
_Diz que é mentira, diz que é um plano paranóico contra você.
Ele diria, não fosse a Eunice intervir.
_Tia, pense um pouco. Ele é assim desde garoto. Esse é ele.
Enfim, Marina chora magoada. Eunice baixa a cabeça e resmunga:
_Por que é que tem que ser assim?
Nenhum comentário:
Postar um comentário