Rio de Janeiro

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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Crônica publicada em revista: A Cotidiana Morte.

A Cotidiana Morte. Eu aprecio histórias de gente normal, mas essa aqui faz da morte algo tão natural e normal que até assusta. Reginaldo, um amigo da nossa família, era um homem exemplar na sua educação e nos seus costumes. Começou a trabalhar logo que terminou o curso colegial, estudou ciências contábeis na Universidade Federal do Paraná, após a conclusão do curso ingressou nos escritórios da Itaipu Binacional, casou tarde, aos 38 anos, e teve três filhos. Trabalho, honestidade e boa vontade norteavam os seus caminhos. Na sua vida privada, era conhecido como um marido perfeito e apaixonado pela mulher, Francisca, mãe dos seus três filhos: João Victor, que nessa ocasião contava vinte e oito anos; Ana Cláudia, que é casada com o Artur de Sá Souza, que estava com vinte e cinco anos e grávida do seu primeiro filho; e Reginaldo Marcos, o caçula de dezesseis, um adolescente normal. A cidade observava o comportamento dele. Jamais tivera uma amante sequer. Ganhava uma soma de dinheiro bastante razoável e o que recebia era investido na família. Modesto, não comentava sobre a sua carreira de funcionário na hidrelétrica de Itaipu. A cidade só descobriu que ele era alto funcionário quando ele se aposentou e a diretoria prestou uma homenagem ao funcionário que tanto contribuiu com a boa execução dos projetos. A vizinhança do bairro onde ele morava o conhecia pelo apelido de “Pacífico” porque não entrava em discussão com ninguém. Reginaldo dizia que os desaforos existiam para serem levados para casa e jogados no ralo para que não mais voltassem sem que as pessoas que os atiraram se sujassem. Nas eleições municipais de 2.004, Reginaldo, com sessenta e seis anos de idade, cansado da aposentadoria, resolveu se candidatar ao cargo de prefeito da cidade de Cruzeiro do Oeste, sua cidade natal, para se sentir útil à comunidade. Numa tarde de sábado, dia de levar a mulher ao supermercado e comprar alguns amendoins a mais para comer durante a partida de futebol, aconteceu o imprevisto. Reginaldo entrou no carro, sentou-se no banco do motorista; a sua mulher Francisca sentou-se no banco do passageiro e se dirigiram ao supermercado que ficava a duas quadras da casa deles. Estacionou o veículo, olhou para a mulher e disse que não se sentia bem. Morreu. Parada cardiorrespiratória. Teve uma morte exemplar, modesta, pacífica e ao lado da sua amada. Os votos de toda a cidade de Cruzeiro do Oeste foram para ele naquelas eleições. Se Reginaldo estivesse vivo, estaria eleito

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